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20 de mar. de 2011

A voz que me guiava


auto de Gustave Courbet (1819-1877),  ` o homem desesperado
Maldito seja por ter me traído!
Como pode?
Não compreendo, entreguei-me por completo, acreditei em suas palavras.
Sem resistência seguia cada conselho, cada sugestão tua.
Todos os dias eram sempre iguais, não respirava antes de escuta-lo, acordava e me deitava com tua voz.
Até os meus sonhos e desejos mais secretos eram guiados por você.
Bem que me avisaram.
Disseram que você mentia, que minha devoção era absurda e burra.
Mas como poderia acreditar em tais palavras, se era você o único que me compreendia, que decifrava meus desejos e dizia o que eu queria ouvir.
Duvidar de você seria duvidar de mim mesma, já que tuas palavras eram réplicas do meu pensamento, seria como supor ser traída por mim mesma.
Eu jamais me trairia!
Por quantas vezes rompi com amigos e namoros por tua causa? Ouvi deboches, zombavam de mim.
Mas não, eu não me importava, porque sabia que quando voltasse para casa você estaria lá, para me dizer uma palavra de consolo, como um afago à minha dor, e no dia seguinte ao me levantar, novamente poderia contar com seus conselhos, assim poderia sair para meu trabalho sem preocupar-me com adversidades e acidentes.

Poderia tranquilamente continuar a guiar minha vida, guiada por você, por TUA VOZ. Assim repetiam-se os dias, até que como num pesadelo descobri estar sendo enganada.
Como pode?
Como pude ser tão burra?
Deixei que zombassem de mim por acreditar nas palavras que saiam de ti, duvidei de todos, até que não pude mais negar.
Por caridade ou maldade, me apresentaram a verdade e meus olhos viram o que meus ouvidos se negavam a escutar.
Descobri que era falsa a voz que guiava meus dias, dizendo as palavras mágicas: você deve, você pode, você é capaz, ou, vá, fique, recue, continue, tente você vai conseguir.
Descobri que fui traída e iludida, que você não e verdadeiro, como pude acreditar em você?
Agora esta voz me diz que a tua é falsa, que não passa de um CHIP em uma máquina de mensagens esotérica, programada para ir ao ar todos os dias, no mesmo horário e na mesma estação.
Assim enganar pessoas tolas como eu, que se deixa guiar por um rádio qualquer.
Fui traída por quem acreditei que jamais me trairia.
Meus ouvidos.
Luciana Santos
Maio de 2005


1 de mar. de 2011

Concordância Real


Confusões de palavras,
Vocabulários tendenciosos,
Tudo ilusão.
Não passam de regras construídas,
Por gente perdida,
Que precisam de normas para ter direção.

Gente burra,
Não sabe o que é a vida,
Mas se acham cultas,
Por fazer rimas com perfeição.
Mas se perdem na leitura da vida,
Quando o que precisam,
É enxergar o que está diante do seu nariz.

Lembram-se das crases,
Figura DA Net
Das vírgulas,
Mas se esquecem das barrigas vazias.

Buscam nos dicionários
Palavras corretas,
Bonitas,
Mas não olham nas esquinas,
As crianças perdidas.

Intelectuais procuram palavras difíceis,
Para expressar o que não sabem dizer.
Mas seus discursos vulgares,
Pagos!
Não apagam a fome de ninguém.

Quando se trata de injustiça,
Nem a construção perfeita,
Na mais bela poesia,
Traduz a dor de alguém.

Não há palavras que corrijam,
Os olhos “cegos” da justiça,
Nem vocabulário que amenize,
A discordância nominal,
Verbal,
Da desigualdade real.


Luciana Santos

11/06/2006